sábado, 15 de abril de 2017

TRANSPYRENEA - PARTE IV

SECTOR IV
·        Com 183km
·        4 pontos de controle (CP)
·        Trilhos muito técnicos e lama nalguns locais
·        Desnível: 9000m D+ 11000m D-
·        Temperaturas amenas
·        Noite frias
·        Com chuva

Saída da BV com muita chuva que me vai acompanhar durante o resto do dia. A descida para St Engracie com chuva apresenta-se escorregadia e as minhas sapatilhas não eram as melhores para este tipo de piso. A meio da descida apanho o Daniel e seguimos os dois até St Engracie. Aqui entramos num bar junto à igreja e bebemos uma cerveja. Quando saímos fomos para o alpendre da igreja onde o Daniel tratou dos pés. Entretanto chega o Antony (apoio do Daniel) e decidem descansar por ali devido ao mau tempo. Tento ligar para a São que tinha seguido para o Logibar do outro lado da montanha para marcar a estadia, mas ela não tinha rede. Opto por seguir só. Conhecia parte da descida deste sector. Sigo, primeiro por alcatrão e depois de atravessar o rio é sempre a subir. Passo por pequenas aldeias e entro num estradão que nunca mais acaba.
O hotel de emergência - só falava o aquecimento

A certa altura vejo uma cabana numa curva e noto que tem escritos na porta. Aproximo-me e verifico que está disponível para ser utilizada por quem precise. Entro e vejo que está já 1 pessoa a dormir. Tem duas mesas de madeira com bancos corridos, um fogão e dois espaços para dormir. Descanso um pouco sentado e decido continuar porque me esperavam do outro lado da montanha.
Inscrição na porta

 Estava frio na rua e a chuva e nevoeiro complicavam ainda mais, mas tinha de ir. Siga, continuo a subir pelo estradão, até chegar a uma curva apertada, mas o gps indicava uma direcção diferente. Não via absolutamente nada à distância de 2/3 metros. Não havia trilho visto que entravamos num prado com uma descida muito inclinada. Ainda fiz várias tentativas mas não havia condições. Penso na cabana como última salvação. Sigo com o GPS ligado para conseguir voltar pelo mesmo caminho. Quando estou quase a chegar à cabana escorrego pela lama e merda dos rebanhos de ovelhas e fico com as pernas numa posição complica. Consigo levantar-me e coxear até à cabana. Entro, avalio os estragos e deito-me com toda a roupa disponível vestida. Não ligo despertador. A noite estava muito fria e não consigo aquecer, mas consegui descansar.
DIA 14
Com o nascer do dia, levanto-me e sigo o meu caminho. Volto ao local onde umas horas antes tinha “andado aos papéis” e verifico a dificuldade em encontrar o trilho mesmo com boa visibilidade. Envio mensagem para a São a dizer que já estou a descer para o Logibar. Depois daquela pequena travessia complicada, volto a entrar no estradão com cerca de 3 km planos. Saio do estradão e inicio a descida até a um cruzamento de trilhos que conheço de um treino que fiz por aqui há 4 anos. Sabia que se fosse para a direita era muito mais perto, mas o GR10 mandava-me para a esquerda, por isso é melhor não inventar. Como conhecia, sabia que ainda demorava até chegar lá abaixo. Entretanto encontro o Antony que vinha ao encontro do Daniel. Ele já tinha estado com a São e tinha-lhe falado da minha saída de St Engracie à 7h do dia anterior o que lhe provocou o aumento de preocupações.
passerelle d’Holzarte

Arranjamos um local para abancar e algum tempo depois chega o Daniel e a Jan. A São pôs os meus pés operacionais. Descanso, tomo o pequeno-almoço/almoço e como cheguei primeiro acabei por seguir sozinho, pois eles quiseram descansar mais um pouco.

Vou descendo nas calmas e finalmente avisto a tão esperada passerelle d’Holzarte, uma ponte suspensa com uma altura assustadora. 
Agora eram só mais uns 3 km a descer. A meio dessa descida dá-se o esperado encontro. A São e a Glória que quase não dormiram toda a noite, vinham a subir. A São quando me viu não se conteve em lágrimas. Tentei acalma-la e seguimos devagar até ao carro. A noite para ela foi mais dramática que para mim. Fui relatando as peripécias que vivi durante a noite e agora que está tudo bem há que descansar.


Passo pelo Logibar e começo logo a subida relativamente fácil ao largo de Larrau mas depois entramos num trilho com muita lama onde dificilmente me conseguia manter de pé. Com a ajuda dos batões ia conseguindo manter o equilíbrio, até que não houve salvação possível e tomo um banho de lama. As sapatilhas não ajudavam nada. Só no CP19 é que vi a falta da bandeira que me acompanhou ao longo de mais de 700 km.
727 km já cá cantam

O CP19 estava na estação de sky de IRATY. À chegada subimos por uma estrada de alcatrão e quando pensava que era por ali, ainda temos de fazer umas centenas de metros no asfalto. Depois de uma curva avisto a São que acabava de chegar e tinha parado o carro a cerca de 200 m do edifício onde estava o CP. Desci com a Gloria e tomei um bom almoço enquanto a São “reparava” os meus pés. Parei só o tempo necessário que não chegou a 1 hora e continuo. Pouco passa das 18 horas, por isso estudamos o mapa e combinamos ir dormir a um refugio KasKoleta que ficava a cerca de 20 km. O percurso era fácil, com pouco desnível positivo e com a decida muito gradual o que permitia ensaiar a corrida frequentemente.
Depois de atravessar um longo planalto com pedras disposta em circulo e identificadas como monumentos pré-históricos, entramos em estradões entre paredes ou vedações de cercas que parecem não ter fim. Já é de noite e acabo por ter um desvio do trilho seguindo por uma estrada paralela aquela por onde deveria ir. Quando dou por isso tento ver se é possível descer para a estrada certa, mas a descida era acentuada. Volto para trás algumas dezenas de metros e meto-me a atalhar, mas como quem se mete em atalhos mete-se em trabalho, depois de atravessar muito mato e ao chegar perto da estrada, tinha um combro de mais de 2 metros. Foi uma carga de trabalhos descer aquilo. Mas o pior é que esse ponto da estrada estava já ligeiramente abaixo de um desvio para o lado esquerdo. Segui à direita pela estrada, fui dar uma grande volta e só dei pelo erro quando chego ao cruzamento donde vinha o percurso certo. Volto a passar pelo trilho certo no dia seguinte, na repetição deste trilho.

A partir daqui era sempre a descer por um estradão que passa a estrada asfaltada. Já olhava para tudo o que era luz porque deveria estar muito perto do refúgio. Como não vejo nada continuo quase sempre correndo, mas já muito desconfiado por estar a descer tanto. Começo a ver cada vez mais perto uma vila, que sabia não existir antes do refúgio. Vejo uma pequena placa com indicação do refúgio e não reparei que tinha uma seta de indicação de direcção e penso que seria um grande edifício que existia ali ao lado. Entro no recinto, e dou uma volta pela frente do edifício que tinha luzes no seu interior. Não encontrei qualquer porta aberta e cheguei à conclusão que se tratava de uma casa particular. Saio e vou verificar a placa. É quando vejo que tinha a tal indicação de direcção, precisamente para a estrada donde tinha vindo. Verifico depois que  aquela vila era Esterençuby e que tinha passado o refugio à pelo menos 5 km. Telefono para a São e foi difícil explicar onde estava, porque elas andavam no meio do campo no trilho à minha espera. Quando lhe disse o que já tinha descido é que percebemos que estava já bem à frente. Ainda lhe digo que vou continuar até St Jean, mas perante a insistência dela e o facto de pela segunda vez pagar estadia para mim e falhar, lá me convenceu a voltar para trás. Vou subindo e elas vêm ao meu encontro. Tinham tenda montada e jantar. Chego já tarde e vamos para a sala de jantar do refúgio. Tomo um banho e enquanto janto a São faz o tratamento aos pés que cada vez estão pior. Programo dormir cerca de 4 horas.
DIA 15
Como programado, por volta das 5 horas ponho-me ao caminho. Agora já conhecia o percurso com excepção daquela parte onde me tinha enganado na véspera. Foi reconhecendo os vários locais onde tinha já passado e assim chego à vila. Depois de atravessar Esterençuby viramos à direita e iniciamos uma subida não muito longa. Sensivelmente a meio encontro o Daniel que tinha dormido pouco antes de refúgio. O Daniel normalmente dormia ao ar livre com um bivac. Começamos a descer para as povoações que antecedem St. Jean. Alternávamos trilhos e estradas de alcatrão. Esta zona, que antecede o CP20 é relativamente plana. Ainda fizemos uma paragem junto a uma bica de água, para comer qualquer coisa porque este tipo de terreno plano parece mais cansativo que o sobe e desce. Mas ao amanhecer entramos em St Jean e na rua principal o CP20. Paro só o tempo necessário para tomar o pequeno-almoço. Queria fazer os dois CPs hoje e se possível o pouco do último troço. 

O CP21 ficava a cerca de 17 km com uma subida de cerca de 800 m D+ e uma descida para o mesmo nivel. Ainda houve tempo para pequenos desvios do trilho quando seguia por uma estrada de alcatrão e não detectei um corte à esquerda por um trilho bem inclinado e técnico.
 
Está cada vez mais perto.





Depois de entrar nos carris foi só apreciar a paisagem povoada com muitos cavalos e descer calmamente até à entrada de Baigorry onde encontrei a Glória. Pensava que estava quase, mas à entrada da vila uma placa indicava que o CP estava a 2 km. A Gloria confirmou que tínhamos de atravessar toda a cidade e subir um pouco. Foram 2 longos kms pelas ruas movimentadas até à saída para a montanha. A São tinha instalado o acantonamento cerca de 200 metros depois do CP21, por isso vou picar o ponto e bebo coca cola e sigo para o almoço que me esperava e uma sesta à sombra. Fazia muito calor e era 2h da tarde.
Enquanto descanso passam vários atletas entre os quais o casal italiano que chegou a andar vários dias com o João Oliveira. Cerca de 2 horas depois parto ao ataque do penúltimo CP que fica a 16 km. Iniciamos com uma subida até atingir um trilho muito técnico e por vezes perigoso a meia encosta. Ultrapasso o casal italiano que seguia já com alguma dificuldade devido ao calor. Voltávamos a uma subida, agora mais acentuada e técnica com uma vista fabulosa e com um precipício enorme à nossa direita que nos facultava uma vista aérea espectacular para os campos de pastoreia lá em baixo. Seguimos com este cenário durante vários km. A meio do percurso encontro num cruzamento de trilhos um grupo de caminheiros. Em frente visualizava uma subida enorme e à direita por onde eles iam seguir era a descer. Pergunto se o GR10 era por ali e disseram-me que não, era em frente e riram. Não achei muita graça, mas depois percebi porque. Aquilo por ali acima não era pera doce. Continuamos com o mesmo cenário até atingir o ponto mais alto onde estavam elementos que identifiquei como ligados à organização e que estariam a ver se estaria tudo bem.



Inicio agora a descida suave inicialmente e depois mais acentuada, até encontra as primeiras casas. Ainda ultrapasso um atleta que não tinha visto até ali e já muito próximo do CP encontro a Gloria. Foi já com alguma emoção que entrei no último CP.

Chego aqui mais cansado do que esperava, por isso decidi fazer o descanso e sair por volta da meia noite para o ultimo dia. A São e a Gloria também vão dormir aqui no pavilhão, mas elas optam por ir só fazê-lo depois da minha partida. Pouco antes da meia noite, levanto-me e vou fazer o penso aos pés conforme tinha combinado com as meninas da protecção civil. Já estavam a dormir e acordam mas limitam-se a fazer um penso simples.


DIA 16 – ULTIMO
A jornada final começa pouco antes da 1 da manhã. São cerca de 70 km que pelo perfil parecia fácil. Ninguém tinha descansado aqui e seguiram enquanto eu dormia, o casal de italianos e o Belga e o francês.
Inicio a subida que me surpreende pelo grau de dificuldade e perigosidade. Foi com muito cuidado nestas zonas porque não queria por em causa a chegada a Hendaye. Algumas partes equipadas com cordas, não eram propriamente o melhor percurso para fazer por volta das 2 da manhã, completamente sozinho e com o desgaste de 15 dias nas pernas. Passo essas partes de grau de dificuldade elevado e entro num planalto de trilho fácil. Começo a ver luzes de frontal ao longe o que me provoca um efeito anímico positivo. Pouco a pouco vou-me aproximando. São os italianos. Ultrapasso-os e rapidamente ganho avanço. Vejo nova luz que alcanço pouco depois. Nova ultrapassagem, mas não cheguei a perceber de quem se tratava. Começamos agora a descer para Ainhoa, uma vila muito bem cuidada mas que aquela hora (seriam umas 4horas) não apresentava qualquer sinal de vida. Ainda erro a saída e sigo pela estrada principal quando deveria virar à direita dentro da vila. Volto atrás e lá estava a marcação. Uma placa informava que faltavam 13 km para Sare. O percurso era completamente plano e alternava estradões com pequenos trilhos. Começo a ver luzes à frente que vão ficando cada vez mais perto. Eram o Belga e o Francês. Este duo que não se conheciam antes da transpyrenea, juntaram-se a partir do CP4 e não mais se separaram. Deviam faltar cerca de 4 km para Sare e seguimos juntos para ir tomar o pequeno-almoço nesta vila já ao amanhecer. Subimos uma escadaria na abordagem à vila e ainda desviamos para um trilho, mas em pouco tempo estávamos nas ruas de Sare. Aqui aparecia uma informação da prova com uma seta a indicar Hendaye. No centro da vila preparavam-se as esplanadas para mais um dia a receber turistas. Perguntamos se já estavam a servir o pequeno-almoço e direccionaram-nos para uma pastelaria que ficava mais à frente. Chegamos, deixamos as mochilas numa mesa exterior (com o nosso cheiro, no interior podíamos espantar a clientela), e fomos pedir ao balcão. O belga começa a pedir, e ao ver aquilo que ele pedia fiquei na dúvida se estava a pedir só para ele ou era para todos. Pediu vários tipos de bolos (pelo menos 4), mais 2 Kit-kat e ainda outro chocolate. Como o francês pediu logo a seguir outro tabuleiro composto, tive que acompanhar, mas só com 2 bolos. Nesta fase nós tínhamos sempre fome e comíamos tudo o que aparecesse. O francês ainda voltou para reabastecer, mais já tinham esgotado os bolos. Ainda repartiu comigo um último que restava.
Com a barriguita composta partimos ao ataque à subida de La Rhune. Há uns 3 anos tinha feito esta subida mas a partir da estação do comboio turístico. Pensava que iríamos passar mesmo pelo ponto mais alto e por isso achei que a altimetria estava errada e teríamos muito mais desnível. Quando interceptamos com o percurso que vinha da estação, faço uma viragem à esquerda porque conhecia esta subida. Como estava convencida que era para subir vamos a isto. Subo um pouco e começo a desconfiar. Ligo o GPS e verifico que afinal não era para subir. Mais uma vez perdido mas ainda não seria a última. Volto ao trilho que ainda se sobe um pouco e no ponto mais alto vemos pela primeira vez a linha de costa e o destino, mas ainda estamos a mais de 6 horas de distância. Cruzamos com muitas centenas de turista que diariamente sobem ao Rhule. Na descida tínhamos de parar frequentemente no cruzamento com os turistas, porque o trilho é estreito.

Ao chegar ao fundo, entramos num parque de estacionamento onde, por coincidência a Glória acabava de estacionar. Tinham escolhido um local junto ao rio para a última paragem para almoço e sesta. Enquanto preparam o repasto, descalço-me e ponho os pés na água. Não aguento muito tempo porque as feridas das bolhas não se dão muito bem com a água fria. Entretanto passam os meus colegas de pequeno-almoço que pouco depois voltam atrás, para dormir aqui uma sesta antes de começar a subir. Foram as últimas 2 horas de paragem cerca de 6 horas antes da chegada. 

A placa indicadora de direcção informava que para Hendaye eram 6h30 de viagem. Subimos um pequeno monte e voltamos a descer para um vale onde se situava um restaurante com acessibilidades só por trilhos, mas que tinha bastante clientela. Descemos mais um pouco do rio e voltamos a subir, agora sim a última subida, pensava eu. Chego ao alto e vejo Muitos carros, autocarro e casas de comércio ao longo de uma rua que sobe do outro lado do monte. O GR10 encaminha-se para lá. Quando chego à entrada hesito e sigo por um trilho à direita dessa rua. Depois de cerca de 200 m verifico pelo GPS que o mais provável é ser mesmo pela rua. Atalho a subir pelas traseiras de uma das esplanadas e aproveito para descansar e hidratar com uma cerveja fresquinha, que o calor aperta.
Continuo a subir agora pelo alcatrão até ao fim desta zona comercial espanhola implantado sobre a linha de fronteira. Ainda uma descida e nova subida até um cruzamento de trilhos onde para a direita tínhamos uma subida enorme e em frente era plano. Começo a subir e cruzo com um atleta que vinha a descer em treino. Pergunto-lhe se ia bem por ali. Ele diz-me que o antigo GR10 era por baixo, para eu voltar por lá que era muito mais fácil e em pouco tempo estaria em Biriatou. Fui ainda tentado a fazer o que ele recomendou, mas depois de hesitar decidi subir pelo trilho marcado e não me arrependi. 

A vista sobre Hendaye deliciou-me só por pensar que o objectivo tão desejado estava ali tão perto. Ainda umas fotos com os cavalos selvagens e início a descida a “grande” velocidade. O caminho era pedregoso e irregular, mas tinha trilho pelo meio dos arbustos que o ladeavam e que eram mais amigos dos meus pés. Num determinado ponto da descida, meto por um desses trilhos à direita do caminho e azar meu, precisamente nesse ponto havia a viragem à esquerda. Sigo por ali abaixo e só quando pressinto que me vou a afastar do objectivo recorro ao GPS. Claro que estava num outro GR. Volta para trás que agora tens de subir. Não chego mesmo ao cimo, porque vejo no GPS que o trilho passa ali ao lado e mesmo com o mato consegui atalhar e pegar no caminho direito.

 Mais uns minutos e estava em Biriatou. Procuro o trilho junto à igreja e é só descer mais um pouco e apanhar uma subida em alcatrão com uma inclinação que era dispensável nesta altura, mas já cheirava a meta. Vamos embora ao seu encontro. Passo por debaixo do auto-estrada e mais uma subida. Isto está quase. Telefona o Orlando Duarte que estava em frente ao computador à espera da minha chegada. Digo-lhe que está quase, estimo uns ¾ km e já está. Acabo de desligar o telefone e cruzo com um francês que passeava o seu cão e depois de palavras de incentivo, me informa que a ponta da praia de Hendaye estaria a cerca de 10 km. Nem queria acreditar. Mas não é que ele tinha mesmo razão. Durante uns km ainda fui metendo na cabeça que o homem não sabia, mas quando encontrei a Glória e o Beta que me dizem estarmos a 5 km da meta, confirmou-se a informação do francês.

Este encontro a 5 km da meta foi a confirmação do verdadeiro cheiro a meta. Comecei a correr mais um pouco, mas parecia que os kms eram enormes. Entramos num percurso de bicicletas junto à marina e ainda faltam 3 km. Atravessamos para a marginal que me pareceu não ter fim. Era tarde de praia e a rua estava cheia de gente. Não se conseguia correr no passeio, por isso íamos na pista das bicicletas. Começamos a ver o pórtico lá bem ao fundo. Passamos pela barraca dos gelados e deu-me uma vontade de parar para comprar um, mas havia fila e decidi continuar. Encontramos a São que seguiu comigo e conseguia correr a maior velocidade que eu. E finalmente depois de 366h29 chego ao objectivo que nunca imaginei ser possível concretizar.   FFFFFFFFFFFIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMMMMM





O Beta abre o champanhe e está consumado o meu maior desafio.
Se tinha dúvidas se consegui, claro que tinha.
Se desde que comecei o desafio alguma vez pensei que não ia chegar ao fim? Não, nunca me passou isso pela cabeça


Alguns dados:
·         Começo da preparação com a pré-inscrição cerca de 20 meses antes (fim de 2014)
·         Primeira lista de pré-inscritos com 7 portugueses (Jorge Mimoso e António Silva incluídos)
·         Inicio das prestações no 1º trimestre de 2016.
·         Custo da inscrição – 915€
·         Alimentação liofilizada – 292€
·         Deslocações  e estadia – 200€
·         Equipamento especifico
o   Mochila – 80€
o   Poncho – 45€
o   Double Light Sticks – 10€
o   Saco cama – 70€
o   Sapatilhas – 126€
TOTAL: 1738€

o   Ao João Oliveira, Jorge Serrazina, Paulo Grelha e João Colaço
Há um verbo novo: 
“transpirinear”
Que poucos num povo
Podem conjugar.
Palmilhar com gana
O "pescoço da Ibéria"
Mais de uma semana
É coisa bem séria
"- Quase 900 (!)
Do Creus à Biscaia
Muitos os tormentos
Espero não dar raia
E pensei baixinho:
“Se errar, que se f…”
Pus-me a caminho
Fiz aquela merda toda."
Parabéns Ultracampeões.

                        Fernando Andrade