SECTOR IV
·
Com
183km
·
4 pontos de controle
(CP)
·
Trilhos
muito técnicos e lama nalguns locais
·
Desnível:
9000m D+ 11000m D-
·
Temperaturas
amenas
·
Noite
frias
O hotel de emergência - só falava o aquecimento |
A certa altura vejo uma cabana numa curva e noto que tem
escritos na porta. Aproximo-me e verifico que está disponível para ser
utilizada por quem precise. Entro e vejo que está já 1 pessoa a dormir. Tem
duas mesas de madeira com bancos corridos, um fogão e dois espaços para dormir.
Descanso um pouco sentado e decido continuar porque me esperavam do outro lado
da montanha.
Estava frio na rua e a chuva e nevoeiro complicavam ainda mais, mas tinha de ir. Siga, continuo a subir pelo estradão, até chegar a uma curva apertada, mas o gps indicava uma direcção diferente. Não via absolutamente nada à distância de 2/3 metros. Não havia trilho visto que entravamos num prado com uma descida muito inclinada. Ainda fiz várias tentativas mas não havia condições. Penso na cabana como última salvação. Sigo com o GPS ligado para conseguir voltar pelo mesmo caminho. Quando estou quase a chegar à cabana escorrego pela lama e merda dos rebanhos de ovelhas e fico com as pernas numa posição complica. Consigo levantar-me e coxear até à cabana. Entro, avalio os estragos e deito-me com toda a roupa disponível vestida. Não ligo despertador. A noite estava muito fria e não consigo aquecer, mas consegui descansar.
DIA 14
Com o nascer do dia, levanto-me e sigo o meu caminho.
Volto ao local onde umas horas antes tinha “andado aos papéis” e verifico a
dificuldade em encontrar o trilho mesmo com boa visibilidade. Envio mensagem
para a São a dizer que já estou a descer para o Logibar. Depois daquela pequena
travessia complicada, volto a entrar no estradão com cerca de 3 km planos. Saio
do estradão e inicio a descida até a um cruzamento de trilhos que conheço de um
treino que fiz por aqui há 4 anos. Sabia que se fosse para a direita era muito
mais perto, mas o GR10 mandava-me para a esquerda, por isso é melhor não
inventar. Como conhecia, sabia que ainda demorava até chegar lá abaixo.
Entretanto encontro o Antony que vinha ao encontro do Daniel. Ele já tinha
estado com a São e tinha-lhe falado da minha saída de St Engracie à 7h do dia
anterior o que lhe provocou o aumento de preocupações.
Arranjamos um local para abancar e algum tempo depois chega o Daniel e a Jan. A São pôs os meus pés operacionais. Descanso, tomo o pequeno-almoço/almoço e como cheguei primeiro acabei por seguir sozinho, pois eles quiseram descansar mais um pouco.
Vou descendo nas calmas e finalmente avisto a tão esperada passerelle d’Holzarte, uma ponte suspensa com uma altura assustadora.
Agora eram só mais uns 3 km a descer. A meio dessa descida dá-se o esperado encontro. A São e a Glória que quase não dormiram toda a noite, vinham a subir. A São quando me viu não se conteve em lágrimas. Tentei acalma-la e seguimos devagar até ao carro. A noite para ela foi mais dramática que para mim. Fui relatando as peripécias que vivi durante a noite e agora que está tudo bem há que descansar.
Inscrição na porta |
Estava frio na rua e a chuva e nevoeiro complicavam ainda mais, mas tinha de ir. Siga, continuo a subir pelo estradão, até chegar a uma curva apertada, mas o gps indicava uma direcção diferente. Não via absolutamente nada à distância de 2/3 metros. Não havia trilho visto que entravamos num prado com uma descida muito inclinada. Ainda fiz várias tentativas mas não havia condições. Penso na cabana como última salvação. Sigo com o GPS ligado para conseguir voltar pelo mesmo caminho. Quando estou quase a chegar à cabana escorrego pela lama e merda dos rebanhos de ovelhas e fico com as pernas numa posição complica. Consigo levantar-me e coxear até à cabana. Entro, avalio os estragos e deito-me com toda a roupa disponível vestida. Não ligo despertador. A noite estava muito fria e não consigo aquecer, mas consegui descansar.
passerelle d’Holzarte |
Arranjamos um local para abancar e algum tempo depois chega o Daniel e a Jan. A São pôs os meus pés operacionais. Descanso, tomo o pequeno-almoço/almoço e como cheguei primeiro acabei por seguir sozinho, pois eles quiseram descansar mais um pouco.
Vou descendo nas calmas e finalmente avisto a tão esperada passerelle d’Holzarte, uma ponte suspensa com uma altura assustadora.
Agora eram só mais uns 3 km a descer. A meio dessa descida dá-se o esperado encontro. A São e a Glória que quase não dormiram toda a noite, vinham a subir. A São quando me viu não se conteve em lágrimas. Tentei acalma-la e seguimos devagar até ao carro. A noite para ela foi mais dramática que para mim. Fui relatando as peripécias que vivi durante a noite e agora que está tudo bem há que descansar.
Passo pelo Logibar e começo logo a subida relativamente fácil
ao largo de Larrau mas depois entramos num trilho com muita lama onde
dificilmente me conseguia manter de pé. Com a ajuda dos batões ia conseguindo
manter o equilíbrio, até que não houve salvação possível e tomo um banho de
lama. As sapatilhas não ajudavam nada. Só no CP19 é que vi a falta da bandeira
que me acompanhou ao longo de mais de 700 km.
O CP19 estava na estação de sky de IRATY. À chegada
subimos por uma estrada de alcatrão e quando pensava que era por ali, ainda
temos de fazer umas centenas de metros no asfalto. Depois de uma curva avisto a
São que acabava de chegar e tinha parado o carro a cerca de 200 m do edifício
onde estava o CP. Desci com a Gloria e tomei um bom almoço enquanto a São
“reparava” os meus pés. Parei só o tempo necessário que não chegou a 1 hora e
continuo. Pouco passa das 18 horas, por isso estudamos o mapa e combinamos ir
dormir a um refugio KasKoleta que ficava a cerca de 20 km. O percurso era
fácil, com pouco desnível positivo e com a decida muito gradual o que permitia
ensaiar a corrida frequentemente.727 km já cá cantam |
Depois de atravessar um longo planalto com pedras disposta em
circulo e identificadas como monumentos pré-históricos, entramos em estradões
entre paredes ou vedações de cercas que parecem não ter fim. Já é de noite e
acabo por ter um desvio do trilho seguindo por uma estrada paralela aquela por
onde deveria ir. Quando dou por isso tento ver se é possível descer para a
estrada certa, mas a descida era acentuada. Volto para trás algumas dezenas de
metros e meto-me a atalhar, mas como quem se mete em atalhos mete-se em
trabalho, depois de atravessar muito mato e ao chegar perto da estrada, tinha
um combro de mais de 2 metros. Foi uma carga de trabalhos descer aquilo. Mas o
pior é que esse ponto da estrada estava já ligeiramente abaixo de um desvio
para o lado esquerdo. Segui à direita pela estrada, fui dar uma grande volta e
só dei pelo erro quando chego ao cruzamento donde vinha o percurso certo. Volto
a passar pelo trilho certo no dia seguinte, na repetição deste trilho.
A partir daqui era sempre a descer por um estradão que passa
a estrada asfaltada. Já olhava para tudo o que era luz porque deveria estar
muito perto do refúgio. Como não vejo nada continuo quase sempre correndo, mas
já muito desconfiado por estar a descer tanto. Começo a ver cada vez mais perto
uma vila, que sabia não existir antes do refúgio. Vejo uma pequena placa com
indicação do refúgio e não reparei que tinha uma seta de indicação de direcção
e penso que seria um grande edifício que existia ali ao lado. Entro no recinto,
e dou uma volta pela frente do edifício que tinha luzes no seu interior. Não
encontrei qualquer porta aberta e cheguei à conclusão que se tratava de uma
casa particular. Saio e vou verificar a placa. É quando vejo que tinha a tal
indicação de direcção, precisamente para a estrada donde tinha vindo. Verifico
depois que aquela vila era Esterençuby e que tinha passado o refugio
à pelo menos 5 km. Telefono para a São e foi difícil explicar onde estava,
porque elas andavam no meio do campo no trilho à minha espera. Quando lhe disse
o que já tinha descido é que percebemos que estava já bem à frente. Ainda lhe
digo que vou continuar até St Jean, mas perante a insistência dela e o facto de
pela segunda vez pagar estadia para mim e falhar, lá me convenceu a voltar para
trás. Vou subindo e elas vêm ao meu encontro. Tinham tenda montada e jantar.
Chego já tarde e vamos para a sala de jantar do refúgio. Tomo um banho e
enquanto janto a São faz o tratamento aos pés que cada vez estão pior. Programo
dormir cerca de 4 horas.
Inicio agora a
descida suave inicialmente e depois mais acentuada, até encontra as primeiras
casas. Ainda ultrapasso um atleta que não tinha visto até ali e já muito
próximo do CP encontro a Gloria. Foi já com alguma emoção que entrei no último
CP.
DIA 15
Como programado, por volta das 5 horas ponho-me ao caminho.
Agora já conhecia o percurso com excepção daquela parte onde me tinha enganado
na véspera. Foi reconhecendo os vários locais onde tinha já passado e assim
chego à vila. Depois de atravessar Esterençuby viramos à direita e iniciamos
uma subida não muito longa. Sensivelmente a meio encontro o Daniel que tinha
dormido pouco antes de refúgio. O Daniel normalmente dormia ao ar livre com um
bivac. Começamos a descer para as povoações que antecedem St. Jean. Alternávamos
trilhos e estradas de alcatrão. Esta zona, que antecede o CP20 é relativamente
plana. Ainda fizemos uma paragem junto a uma bica de água, para comer qualquer
coisa porque este tipo de terreno plano parece mais cansativo que o sobe e
desce. Mas ao amanhecer entramos em St Jean e na rua principal o CP20. Paro só
o tempo necessário para tomar o pequeno-almoço. Queria fazer os dois CPs hoje e
se possível o pouco do último troço.
O CP21 ficava a cerca de 17 km com uma subida de cerca de 800 m D+ e uma descida para o mesmo nivel. Ainda houve tempo para pequenos desvios do trilho quando seguia por uma estrada de alcatrão e não detectei um corte à esquerda por um trilho bem inclinado e técnico.
Depois de entrar nos carris foi só apreciar a paisagem povoada com muitos cavalos e descer calmamente até à entrada de Baigorry onde encontrei a Glória. Pensava que estava quase, mas à entrada da vila uma placa indicava que o CP estava a 2 km. A Gloria confirmou que tínhamos de atravessar toda a cidade e subir um pouco. Foram 2 longos kms pelas ruas movimentadas até à saída para a montanha. A São tinha instalado o acantonamento cerca de 200 metros depois do CP21, por isso vou picar o ponto e bebo coca cola e sigo para o almoço que me esperava e uma sesta à sombra. Fazia muito calor e era 2h da tarde.
O CP21 ficava a cerca de 17 km com uma subida de cerca de 800 m D+ e uma descida para o mesmo nivel. Ainda houve tempo para pequenos desvios do trilho quando seguia por uma estrada de alcatrão e não detectei um corte à esquerda por um trilho bem inclinado e técnico.
Está cada vez mais perto. |
Depois de entrar nos carris foi só apreciar a paisagem povoada com muitos cavalos e descer calmamente até à entrada de Baigorry onde encontrei a Glória. Pensava que estava quase, mas à entrada da vila uma placa indicava que o CP estava a 2 km. A Gloria confirmou que tínhamos de atravessar toda a cidade e subir um pouco. Foram 2 longos kms pelas ruas movimentadas até à saída para a montanha. A São tinha instalado o acantonamento cerca de 200 metros depois do CP21, por isso vou picar o ponto e bebo coca cola e sigo para o almoço que me esperava e uma sesta à sombra. Fazia muito calor e era 2h da tarde.
Enquanto descanso passam vários atletas entre os quais o
casal italiano que chegou a andar vários dias com o João Oliveira. Cerca de 2
horas depois parto ao ataque do penúltimo CP que fica a 16 km. Iniciamos com
uma subida até atingir um trilho muito técnico e por vezes perigoso a meia
encosta. Ultrapasso o casal italiano que seguia já com alguma dificuldade
devido ao calor. Voltávamos a uma subida, agora mais acentuada e técnica com
uma vista fabulosa e com um precipício enorme à nossa direita que nos facultava
uma vista aérea espectacular para os campos de pastoreia lá em baixo. Seguimos
com este cenário durante vários km. A meio do percurso encontro num cruzamento
de trilhos um grupo de caminheiros. Em frente visualizava uma subida enorme e à
direita por onde eles iam seguir era a descer. Pergunto se o GR10 era por ali e
disseram-me que não, era em frente e riram. Não achei muita graça, mas depois
percebi porque. Aquilo por ali acima não era pera doce. Continuamos com o mesmo
cenário até atingir o ponto mais alto onde estavam elementos que identifiquei
como ligados à organização e que estariam a ver se estaria tudo bem.
Chego aqui mais cansado do que esperava, por isso decidi
fazer o descanso e sair por volta da meia noite para o ultimo dia. A São e a
Gloria também vão dormir aqui no pavilhão, mas elas optam por ir só fazê-lo
depois da minha partida. Pouco antes da meia noite, levanto-me e vou fazer o
penso aos pés conforme tinha combinado com as meninas da protecção civil. Já
estavam a dormir e acordam mas limitam-se a fazer um penso simples.
Com a barriguita composta partimos ao ataque à subida de La Rhune. Há uns 3 anos tinha feito esta subida mas a partir da estação do comboio turístico. Pensava que iríamos passar mesmo pelo ponto mais alto e por isso achei que a altimetria estava errada e teríamos muito mais desnível. Quando interceptamos com o percurso que vinha da estação, faço uma viragem à esquerda porque conhecia esta subida. Como estava convencida que era para subir vamos a isto. Subo um pouco e começo a desconfiar. Ligo o GPS e verifico que afinal não era para subir. Mais uma vez perdido mas ainda não seria a última. Volto ao trilho que ainda se sobe um pouco e no ponto mais alto vemos pela primeira vez a linha de costa e o destino, mas ainda estamos a mais de 6 horas de distância. Cruzamos com muitas centenas de turista que diariamente sobem ao Rhule. Na descida tínhamos de parar frequentemente no cruzamento com os turistas, porque o trilho é estreito.
DIA 16 – ULTIMO
A jornada final começa pouco antes da 1 da manhã. São cerca
de 70 km que pelo perfil parecia fácil. Ninguém tinha descansado aqui e seguiram
enquanto eu dormia, o casal de italianos e o Belga e o francês.
Inicio a subida que me surpreende pelo grau de
dificuldade e perigosidade. Foi com muito cuidado nestas zonas porque não
queria por em causa a chegada a Hendaye. Algumas partes equipadas com cordas,
não eram propriamente o melhor percurso para fazer por volta das 2 da manhã,
completamente sozinho e com o desgaste de 15 dias nas pernas. Passo essas
partes de grau de dificuldade elevado e entro num planalto de trilho fácil.
Começo a ver luzes de frontal ao longe o que me provoca um efeito anímico positivo.
Pouco a pouco vou-me aproximando. São os italianos. Ultrapasso-os e rapidamente
ganho avanço. Vejo nova luz que alcanço pouco depois. Nova ultrapassagem, mas
não cheguei a perceber de quem se tratava. Começamos agora a descer para
Ainhoa, uma vila muito bem cuidada mas que aquela hora (seriam umas 4horas) não
apresentava qualquer sinal de vida. Ainda erro a saída e sigo pela estrada
principal quando deveria virar à direita dentro da vila. Volto atrás e lá
estava a marcação. Uma placa informava que faltavam 13 km para Sare. O percurso
era completamente plano e alternava estradões com pequenos trilhos. Começo a ver
luzes à frente que vão ficando cada vez mais perto. Eram o Belga e o Francês.
Este duo que não se conheciam antes da transpyrenea, juntaram-se a partir do
CP4 e não mais se separaram. Deviam faltar cerca de 4 km para Sare e seguimos
juntos para ir tomar o pequeno-almoço nesta vila já ao amanhecer. Subimos uma
escadaria na abordagem à vila e ainda desviamos para um trilho, mas em pouco
tempo estávamos nas ruas de Sare. Aqui aparecia uma informação da prova com uma
seta a indicar Hendaye. No centro da vila preparavam-se as esplanadas para mais
um dia a receber turistas. Perguntamos se já estavam a servir o pequeno-almoço
e direccionaram-nos para uma pastelaria que ficava mais à frente. Chegamos,
deixamos as mochilas numa mesa exterior (com o nosso cheiro, no interior
podíamos espantar a clientela), e fomos pedir ao balcão. O belga começa a
pedir, e ao ver aquilo que ele pedia fiquei na dúvida se estava a pedir só para
ele ou era para todos. Pediu vários tipos de bolos (pelo menos 4), mais 2
Kit-kat e ainda outro chocolate. Como o francês pediu logo a seguir outro
tabuleiro composto, tive que acompanhar, mas só com 2 bolos. Nesta fase nós
tínhamos sempre fome e comíamos tudo o que aparecesse. O francês ainda voltou
para reabastecer, mais já tinham esgotado os bolos. Ainda repartiu comigo um
último que restava.Com a barriguita composta partimos ao ataque à subida de La Rhune. Há uns 3 anos tinha feito esta subida mas a partir da estação do comboio turístico. Pensava que iríamos passar mesmo pelo ponto mais alto e por isso achei que a altimetria estava errada e teríamos muito mais desnível. Quando interceptamos com o percurso que vinha da estação, faço uma viragem à esquerda porque conhecia esta subida. Como estava convencida que era para subir vamos a isto. Subo um pouco e começo a desconfiar. Ligo o GPS e verifico que afinal não era para subir. Mais uma vez perdido mas ainda não seria a última. Volto ao trilho que ainda se sobe um pouco e no ponto mais alto vemos pela primeira vez a linha de costa e o destino, mas ainda estamos a mais de 6 horas de distância. Cruzamos com muitas centenas de turista que diariamente sobem ao Rhule. Na descida tínhamos de parar frequentemente no cruzamento com os turistas, porque o trilho é estreito.
Ao chegar ao fundo, entramos num parque de estacionamento
onde, por coincidência a Glória acabava de estacionar. Tinham escolhido um
local junto ao rio para a última paragem para almoço e sesta. Enquanto preparam
o repasto, descalço-me e ponho os pés na água. Não aguento muito tempo porque
as feridas das bolhas não se dão muito bem com a água fria. Entretanto passam
os meus colegas de pequeno-almoço que pouco depois voltam atrás, para dormir
aqui uma sesta antes de começar a subir. Foram as últimas 2 horas de paragem
cerca de 6 horas antes da chegada.
A placa indicadora de direcção informava que para Hendaye eram 6h30 de viagem. Subimos um pequeno monte e voltamos a descer para um vale onde se situava um restaurante com acessibilidades só por trilhos, mas que tinha bastante clientela. Descemos mais um pouco do rio e voltamos a subir, agora sim a última subida, pensava eu. Chego ao alto e vejo Muitos carros, autocarro e casas de comércio ao longo de uma rua que sobe do outro lado do monte. O GR10 encaminha-se para lá. Quando chego à entrada hesito e sigo por um trilho à direita dessa rua. Depois de cerca de 200 m verifico pelo GPS que o mais provável é ser mesmo pela rua. Atalho a subir pelas traseiras de uma das esplanadas e aproveito para descansar e hidratar com uma cerveja fresquinha, que o calor aperta.
Continuo a subir agora pelo alcatrão até ao fim desta zona comercial espanhola implantado sobre a linha de fronteira. Ainda uma descida e nova subida até um cruzamento de trilhos onde para a direita tínhamos uma subida enorme e em frente era plano. Começo a subir e cruzo com um atleta que vinha a descer em treino. Pergunto-lhe se ia bem por ali. Ele diz-me que o antigo GR10 era por baixo, para eu voltar por lá que era muito mais fácil e em pouco tempo estaria em Biriatou. Fui ainda tentado a fazer o que ele recomendou, mas depois de hesitar decidi subir pelo trilho marcado e não me arrependi.
A vista sobre Hendaye deliciou-me só por pensar que o objectivo tão desejado estava ali tão perto. Ainda umas fotos com os cavalos selvagens e início a descida a “grande” velocidade. O caminho era pedregoso e irregular, mas tinha trilho pelo meio dos arbustos que o ladeavam e que eram mais amigos dos meus pés. Num determinado ponto da descida, meto por um desses trilhos à direita do caminho e azar meu, precisamente nesse ponto havia a viragem à esquerda. Sigo por ali abaixo e só quando pressinto que me vou a afastar do objectivo recorro ao GPS. Claro que estava num outro GR. Volta para trás que agora tens de subir. Não chego mesmo ao cimo, porque vejo no GPS que o trilho passa ali ao lado e mesmo com o mato consegui atalhar e pegar no caminho direito.
Mais uns minutos e estava em Biriatou. Procuro o trilho junto à igreja e é só descer mais um pouco e apanhar uma subida em alcatrão com uma inclinação que era dispensável nesta altura, mas já cheirava a meta. Vamos embora ao seu encontro. Passo por debaixo do auto-estrada e mais uma subida. Isto está quase. Telefona o Orlando Duarte que estava em frente ao computador à espera da minha chegada. Digo-lhe que está quase, estimo uns ¾ km e já está. Acabo de desligar o telefone e cruzo com um francês que passeava o seu cão e depois de palavras de incentivo, me informa que a ponta da praia de Hendaye estaria a cerca de 10 km. Nem queria acreditar. Mas não é que ele tinha mesmo razão. Durante uns km ainda fui metendo na cabeça que o homem não sabia, mas quando encontrei a Glória e o Beta que me dizem estarmos a 5 km da meta, confirmou-se a informação do francês.
Este encontro a 5 km da meta foi a confirmação do verdadeiro cheiro a meta. Comecei a correr mais um pouco, mas parecia que os kms eram enormes. Entramos num percurso de bicicletas junto à marina e ainda faltam 3 km. Atravessamos para a marginal que me pareceu não ter fim. Era tarde de praia e a rua estava cheia de gente. Não se conseguia correr no passeio, por isso íamos na pista das bicicletas. Começamos a ver o pórtico lá bem ao fundo. Passamos pela barraca dos gelados e deu-me uma vontade de parar para comprar um, mas havia fila e decidi continuar. Encontramos a São que seguiu comigo e conseguia correr a maior velocidade que eu. E finalmente depois de 366h29 chego ao objectivo que nunca imaginei ser possível concretizar. FFFFFFFFFFFIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMMMMM
A placa indicadora de direcção informava que para Hendaye eram 6h30 de viagem. Subimos um pequeno monte e voltamos a descer para um vale onde se situava um restaurante com acessibilidades só por trilhos, mas que tinha bastante clientela. Descemos mais um pouco do rio e voltamos a subir, agora sim a última subida, pensava eu. Chego ao alto e vejo Muitos carros, autocarro e casas de comércio ao longo de uma rua que sobe do outro lado do monte. O GR10 encaminha-se para lá. Quando chego à entrada hesito e sigo por um trilho à direita dessa rua. Depois de cerca de 200 m verifico pelo GPS que o mais provável é ser mesmo pela rua. Atalho a subir pelas traseiras de uma das esplanadas e aproveito para descansar e hidratar com uma cerveja fresquinha, que o calor aperta.
Continuo a subir agora pelo alcatrão até ao fim desta zona comercial espanhola implantado sobre a linha de fronteira. Ainda uma descida e nova subida até um cruzamento de trilhos onde para a direita tínhamos uma subida enorme e em frente era plano. Começo a subir e cruzo com um atleta que vinha a descer em treino. Pergunto-lhe se ia bem por ali. Ele diz-me que o antigo GR10 era por baixo, para eu voltar por lá que era muito mais fácil e em pouco tempo estaria em Biriatou. Fui ainda tentado a fazer o que ele recomendou, mas depois de hesitar decidi subir pelo trilho marcado e não me arrependi.
A vista sobre Hendaye deliciou-me só por pensar que o objectivo tão desejado estava ali tão perto. Ainda umas fotos com os cavalos selvagens e início a descida a “grande” velocidade. O caminho era pedregoso e irregular, mas tinha trilho pelo meio dos arbustos que o ladeavam e que eram mais amigos dos meus pés. Num determinado ponto da descida, meto por um desses trilhos à direita do caminho e azar meu, precisamente nesse ponto havia a viragem à esquerda. Sigo por ali abaixo e só quando pressinto que me vou a afastar do objectivo recorro ao GPS. Claro que estava num outro GR. Volta para trás que agora tens de subir. Não chego mesmo ao cimo, porque vejo no GPS que o trilho passa ali ao lado e mesmo com o mato consegui atalhar e pegar no caminho direito.
Mais uns minutos e estava em Biriatou. Procuro o trilho junto à igreja e é só descer mais um pouco e apanhar uma subida em alcatrão com uma inclinação que era dispensável nesta altura, mas já cheirava a meta. Vamos embora ao seu encontro. Passo por debaixo do auto-estrada e mais uma subida. Isto está quase. Telefona o Orlando Duarte que estava em frente ao computador à espera da minha chegada. Digo-lhe que está quase, estimo uns ¾ km e já está. Acabo de desligar o telefone e cruzo com um francês que passeava o seu cão e depois de palavras de incentivo, me informa que a ponta da praia de Hendaye estaria a cerca de 10 km. Nem queria acreditar. Mas não é que ele tinha mesmo razão. Durante uns km ainda fui metendo na cabeça que o homem não sabia, mas quando encontrei a Glória e o Beta que me dizem estarmos a 5 km da meta, confirmou-se a informação do francês.
Este encontro a 5 km da meta foi a confirmação do verdadeiro cheiro a meta. Comecei a correr mais um pouco, mas parecia que os kms eram enormes. Entramos num percurso de bicicletas junto à marina e ainda faltam 3 km. Atravessamos para a marginal que me pareceu não ter fim. Era tarde de praia e a rua estava cheia de gente. Não se conseguia correr no passeio, por isso íamos na pista das bicicletas. Começamos a ver o pórtico lá bem ao fundo. Passamos pela barraca dos gelados e deu-me uma vontade de parar para comprar um, mas havia fila e decidi continuar. Encontramos a São que seguiu comigo e conseguia correr a maior velocidade que eu. E finalmente depois de 366h29 chego ao objectivo que nunca imaginei ser possível concretizar. FFFFFFFFFFFIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMMMMM
Se tinha dúvidas se consegui, claro que tinha.
Se desde que comecei o desafio alguma vez pensei que
não ia chegar ao fim? Não, nunca me passou isso pela cabeça
Alguns dados:
·
Começo da preparação com a pré-inscrição cerca de 20 meses antes
(fim de 2014)
·
Primeira lista de pré-inscritos com 7 portugueses (Jorge Mimoso
e António Silva incluídos)
·
Inicio das prestações no 1º trimestre de 2016.
·
Custo da inscrição – 915€
·
Alimentação liofilizada – 292€
·
Deslocações e estadia –
200€
·
Equipamento especifico
o
Mochila – 80€
o
Poncho – 45€
o
Double Light Sticks – 10€
o
Saco cama – 70€
o
Sapatilhas – 126€
TOTAL: 1738€
o
Ao João Oliveira, Jorge Serrazina, Paulo Grelha e João Colaço
Há um verbo novo:
“transpirinear”
Que poucos num povo
Podem conjugar.
“transpirinear”
Que poucos num povo
Podem conjugar.
Palmilhar com gana
O "pescoço da Ibéria"
Mais de uma semana
É coisa bem séria
O "pescoço da Ibéria"
Mais de uma semana
É coisa bem séria
"- Quase 900 (!)
Do Creus à Biscaia
Muitos os tormentos
Espero não dar raia
Do Creus à Biscaia
Muitos os tormentos
Espero não dar raia
E pensei baixinho:
“Se errar, que se f…”
Pus-me a caminho
Fiz aquela merda toda."
“Se errar, que se f…”
Pus-me a caminho
Fiz aquela merda toda."
Parabéns Ultracampeões.
Fernando
Andrade