quinta-feira, 13 de abril de 2017

TRANSPYRENEA 2016 - PARTE II.1

SECTOR II. 1

  • ·        Com 263 km
  • ·        6 pontos de controle (CP)
  • ·        Trilhos muito técnicos e com muitos cursos de água.
  • ·        Desnível – acumula o maior desnível da prova – 25000 D+ e 26000D-
  • ·        Chuva, granizo, calor, frio,…
  • ·        Início do sofrimento dos pés.
  • ·        Primeiro par de sapatilhas KO. 


Dia 4
Cerca de 5 horas depois, acordo e prepararo-me para partir. Vou tomar o pequeno-almoço e sair logo de seguida, por volta das 4h da manhã. Esta parte do trilho não correspondia ao que tínhamos no GPS. Descíamos pelo alcatrão por onde já tínhamos subido à chegada e deveríamos voltar à esquerda dentro da Aldeia. Quando ia a descer encontro um casal que me diz que vou enganado, que era para cima em sentido contrario à saída do parque de campismo. Volto a subir 1 km até ao parque e sou informado pelo mesmo individuo que era para baixo e que tinha de virar à esquerda antes da aldeia. Volto outra vez pela estrada abaixo, mas não vejo nenhuma saída à esquerda com marcação que ele indicava, até entrar na dita aldeia. Volto a subir, e depois de quase 1 hora nisto, decido virar por um trilho que tinha uma marcação diferente. Sigo pelo trilho acima tendo como única referencia a aproximação ao trilho marcado no GPS. Não sabia se lá iria dar mas arrisquei. Este trilho até era muito agradável. Depois de cerca de 30 minutos a subir para o desconhecido, tive sorte, pois acabei por ir dar ao GR10. Desta já estou safo. O percurso aqui é sempre a subir, e estava muito nevoeiro havendo algumas dificuldades de navegação.

Sinto-me com forças e vou subindo a bom ritmo, tão rápido que não vejo uma viragem à direita. Ando cerca de 1 km quando me dou conta do engano. Volto para trás chateado e pouco tempo depois começo a ver luzes lá no alto à minha esquerda. Ainda vejo se dá para atalhar, mas era muito íngreme e com mato. Tenho de ir até ao ponto onde me enganei. Faço uma subida de raiva e vou ultrapassar alguns atletas que entretanto tinham passado, e colo-me a um grupo que seguia mais à frente. Depois de atingir o ponto mais alto, descemos por um trilho muito técnico e pedregoso. Damos a volta a um lago e seguimos um trilho bastante agradável até ao refúgio onde chegamos já com chuva. Paragem para um pequeno-almoço muito bom e cerca de 1 hora de descanso para aquecer. O ambiente dentro deste refúgio era muito agradável. O grupo onde seguia já partiu. Havia muitos caminheiros que julgo terem pernoitado por aqui. Saio um pouco depois deles e arranco pelo único trilho que vi e por onde eles seguiam. Era bom, era a descer. Um km depois paro para tirar uma foto e ligo o GPS. Qual não é o meu espanto quando vejo que estou completamente fora do trilho. A solução é regressar ao refúgio e entrar no gr10 que seguia mais à direita e a subir. 
O refugio lá em cima.


Começa a chover e a trovoada anda por perto. Ao chegar lá a cima apanho o primeiro granizo. Vejo um grupo que julgava serem atletas a descer à esquerda e nem hesito, sigo por ali. Estava tudo marcado, por isso não havia dúvida, estava no caminho certo.

Apanho um grande susto quando começa a cair granizo maior que bolas de berlinde e não tenho onde me abrigar. Ponho tudo o que tenho à mão sobre a cabeça e mesmo assim sentia bem os impactos, principalmente nas orelhas. Era a descer por um vale muito bonito e consegui ir quase sempre a correr. Apanho uma descida muito acentuada em zig-zag por dentro de uma
As cascatas que mais ninguém viu.
mata muito bonita, até desembocar numa estrada junto a um lago onde encontro carros estacionados. Chovia muito, mas mesmo assim tinha de tirar uma foto aquelas cataratas a correr para o lago. Acabo de tirar as fotos e vou procurar o trilho e não veja qualquer sinalização. Ligo o GPS e não vejo o trilho. Penso que, ou tinha avariado, ou não encontrava sinal naquele ponto. Ao longe aparece um grupo de caminheiros. Dirijo-me para eles e pergunto pelo GR10. Não sabem, mas disseram-me que a guia vinha mais atrás e sabia. Espero um pouco e quando chega a guia e lhe pergunto pelo GR10, não gostei nada da sua reacção, ao dizer-me que estava muito longe. Inicialmente pensei que ela estava enganada, mas quando me mostrou o mapa, não sei bem o que pensei, quando me disse que tinha de voltar a subir tudo o que tinha descido na última 1h30. Tinha de subir tudo o que desci, ou junto a uma cabana onde tinha passado há 45 minutos, tentar encontrar um trilho não marcado que possivelmente daria ligação ao GR10.
3 horas perdido - segui o percurso marcado a verde.


 Agradeço a amabilidade e saio disparado por ali acima, mas a dita cabana nunca mais aparecia. Depois de muito subir pelo vale acima, e ao aproximar-me da cabana, verifico no gps que o trilho passava à esquerda a cerca de 800m em linha recta. Mas tinha de vencer um desnível de mais de 300 m. Decido arriscar e fazer corta-mato. Em muitos locais teve de ser a 4 para não cair para trás. A meio da subida verifico a existência de um trilho muito pouco utilizado e que identifiquei como o tal atalho que a guia tinha localizado no seu mapa. Tento segui-lo em zig-zag a subir a montanha. Quando chego lá acima, a sensação de alívio foi enorme quando vejo atletas a descer da minha esquerda. Estava a salvo. E assim se passaram mais de 3 horas.
Já vai a meio e trilho ...

Já no trilho certo, começo a ultrapassar pessoal, até que, ao aproximar-me de mais um, reconheço o capacete pendurado na mochila. Era o João Colaço. Já não nos víamos desde a partida. Fomos andando por um estradão e pondo a “escrita em dia”, até que chegamos ao CP6. Aqui, veio receber-nos o Sebastien que estava a almoçar com os amigos no restaurante. Ainda nos sentamos à mesa do restaurante, que tinha muito bom aspecto, mas fomos informados que o "Pass refeição" não era válido ali. Fomos almoçar ao ar livre na parte detrás do restaurante num espaço natural. Também não foi mau.

Chegada ao CP6

Depois de almoço retomamos a nossa caminhada. Tínhamos uma longa tarde pela frente. Ora a descer, ora a subir. No meio do nada entramos numa cabana onde tínhamos à disposição bebidas e algumas comidas enlatadas. Tinha a tabela de preços e o local para deixar o dinheiro. Servimo-nos de uma cerveja e uma salada de fruta que soube mesmo bem. Depois de uns minutos de descanso, esperava-nos uma subida bem acentuada. 

Nesta altura seguia connosco o casal de italianos e mais um outro atleta. Como estava a sentir-me muito confortável nas subidas, ganhei algum avanço e ao chegar lá acima o descanso era a recompensa. Acabamos por parar todos cerca de 1 quarto de hora antes de continuar por grandes prados num planalto e depois atacar a longa descida até Siguer, onde esperávamos encontrar um refúgio para descansar. Quando chegamos voltamos a encontrar o Sebastian com os amigos, que nos disse que aqui não havia nada. Como estava a ficar noite, e eles tinham água quente, decidimos fazer a nossa refeição de liofilizados, antes de subir a caminho do CP7. 
A preparar o jantar.

Era já quase noite quando seguimos viagem. Tínhamos pela frente 1000 m de d+. A meio da subida começam a cair os primeiros pingos de chuva e a baixar, de forma significativa, a temperatura. Já a chegar ao planalto somos brindados com chuva muito forte e muito frio. Vemos num alpendre de uma casa luzes de frontais e decidimos ir para lá. Eram os espanhóis que estavam a vestir os impermeáveis. Paramos muito pouco tempo porque estava frio e podíamos entrar em hipotermia com facilidade. Seguimos um grupo de 5 no meio de um temporal tremendo, por estradões do planalto. Ainda saímos do trilho marcado, mas voltamos a encontra-lo um pouco mais à frente. Aqui tínhamos de correr para não arrefecer. Começamos a descer por um trilho escorregadio onde ainda tive uma ameaça de queda, que felizmente não teve consequências, até que chegamos a uma estrada de alcatrão onde estava o organizador, muito preocupado com as condições atmosféricas e que nos informou que o CP era a cerca de 300m. Que alivio.

Ao chegarmos a Goulier por volta da 1 da manhã, comemos qualquer coisa e fomos logo para uma sala, que felizmente tinha aquecedores que deram jeito para  secar a roupa enquanto dormíamos. 

Continua.....http://jserrazina.blogspot.pt/2017/04/transpyrenea-parte-ii2.html

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